FOLHA SECA NÃO É LIXO
José A. Lutzenberger
13 de Fevereiro de 1990"A GARÇA" - Jornal da Riocell*.
A luxuriante Hiléia, a floresta tropical úmida da Amazônia, floresce há milhões de anos sobre os solos que estão entre os mais pobres do mundo. Este fato intrigava muito cientista. O grande cientista alemão, explorador da Amazônia, Alexander Von Humboldt, ainda pensava que a floresta tão viçosa, alta e densa, era indicação de solo muito fértil. Como pode haver tanta vegetação, crescendo tão intensivamente, sobre solo praticamente desprovido de nutrientes?
O segredo é a reciclagem perfeita. Nada se perde, tudo é reaproveitado. A folha morta cai ao chão, é desmanchada por toda sorte de pequenos organismos, principalmente insetos, colêmbolos, centopéias, ácaros, moluscos e depois mineralizada por fungos e bactérias. As raízes capilares das grandes árvores chegam a sair do solo e penetrar na camada de folhas mortas para reabsorver os nutrientes minerais liberados. Poucas semanas depois de caídos, os nutrientes estão de volta no topo, ajudando a fazer novas folhas, flores, frutos e sementes. A floresta natural não necessita de adubação. Assim a floresta consegue manter-se através de séculos, milênios e milhões de anos.
A situação não é diferente em nossos bosques subtropicais, nos campos, pastos ou banhados. A vida se mantém pela reciclagem. Assim deveríamos manter a situação em nossos jardins.
Um dos maiores desastres da atualidade, um desastre que está na base de muitos outros desastres, é o fato de estar a maioria das pessoas, mesmo as que se dizem cultas e instruídas, totalmente desvinculadas espiritualmente da Natureza, alienadas do Mundo Vivo. As pessoas nascem, se criam entre massas de concreto, caminham ou rodam sobre asfalto, as aventuras que experimentam lhe são proporcionadas pela TV ou vídeo. Já não sabem o que é sentir orvalho no pé descalço, admirar de perto a maravilhosa estrutura de uma espiga de capim, observar intensamente o trabalho incrível de uma aranha tecendo sua teia.
Capim, aliás, só bem tosadinho no gramado, de preferência quimicamente adubado! Se não estiver tosado, é feio! Na casa, a desinsetizadora mata até as simpáticas pequenas lagartixas, os gekos.
A situação não é melhor nas universidades. No Departamento de Biologia de uma importante universidade de Porto Alegre, encontra-se um pátio com meia dúzia de árvores raquíticas. Alí o solo é mantido sempre bem varrido, nu, completamente nu! As folhas secas são varridas e levadas ao lixo. Não distinguem sequer entre carteira de cigarro, plástico e folha seca, para eles tudo é lixo.
Já protestei várias vezes. Os professores e biólogos nem tomam conhecimento. Pudera! Hoje a maioria dos que se dizem biólogos, mais merecem o nome de necrólogos, gostam mais é de lidar com vida por eles matada do que dialogar com seres e sistemas vivos. Preferem animais em vidros com álcool ou formol, plantas comprimidas em herbários. São raros, muito raros, hoje, os verdadeiros naturalistas, gente com reverência e amor pela Natureza, que com ela mantém contato e interação intensiva, gente que sabe extasiar-se diante da grandiosidade da maravilhosa sinfonia da Evolução Orgânica.
Por que digo estas coisas na "A GARÇA"( ? Atrás do prédio onde estava a Florestal da Riocell, onde estou agora instalado com meus escritórios da TECNOLOGIA CONVIVIAL e da VIDA PRODUTOS BIOLÓGICOS, existe um barranco onde estão se desenvolvendo lindas "seringueiras".
Na realidade, não são seringueiras, são plantas da mesma família que nossas figueiras, mas são oriundas da Índia. Além de crescerem pelo menos dez vezes mais rápido que nossas figueiras, fazem lindas raízes aéreas e lindas tramas superficiais no solo. A alienação, que predomina entre nós, em geral, faz com que sejam demolidas tão logo atinjam tamanho interessante e aspecto realmente belo.
As Ficus elásticas a que me refiro, fizeram um lindo tapete de folhas secas. Este tapete segura a umidade do solo, mantém o solo poroso e aberto para a penetração da água da chuva e evita a erosão, especialmente na parte mais íngreme do barranco, já bastante erodida, porque no passado, alí, as folhas eram sempre removidas.
Este tapete promove também o desenvolvimento da vegetação arbustiva e rasteira que dará ainda mais vida ao solo e abrigo à fauna, como corruíras e tico-ticos, lagartixas, insetos, etc. Da janela do meu escritório alegro-me cada vez que posso observar esta beleza.
Houve quem insistisse em que varrêssemos para deixar o solo nu. Faço um apelo a todos que ainda não o fizeram, observem este aspecto importante e construtivo da Natureza, aprendam a ver a beleza na grande integração do Mundo Vivo. Não vamos varrer! * "A GARÇA" - Jornal interno da empresa RIOCELL, fábrica de celulose onde a empresa TECNOLOGIA CONVIVIAL de José A. Lutzenberger faz paisagismo e mantém os extensos jardins fonte: Fundação Gaia / Porto Alegre RS
http://www.fgaia.org.br/
Monica, o José Lutzemberguer foi um dos maiores ambientalistas que este planeta já viu!
ResponderExcluirSua vida sempre foi pautada nos assuntos ambientais e a natureza foi sua filosofia!
Que suas palavras nunca sejam "varridas"!
Monica, ando assim um tiquinho revoltada com o ser humano.
ResponderExcluirAs pessoas ladrilham ou cimentam seus quintais para não ter sujeira. A água que desce do céu procurando o chão para se filtrar e voltar a nós novamente límpida e pura, só acham os canos de esgotos e rios poluidos para se chegarem.
Estão aí as grandes enchentes nas cidades que seria previnidas se as pessoas tivessem poucos metros quadrados de terra em seus quintais para reter e filtrar a água.
Eu não sou especialista em nada disso, mas sou observadora e vejo minhas vizinhas varrendo os imensos quintais ladrilhados com a mangueira de água, ficam ali por horas, jogando água limpa e tratada diretamente para o esgoto.
Me sinto tão inútil frente a essas coisas, pessoas que se mudam em novas casas e caso tenha alguma árvore já a cortam rapidamente para se livrar da sujeira.
Tenho um grande quintal com árvores frutíferas, que soltam muitas folhas e ali mesmo elas se reintegram a terra. Tenho também um grande quintal com cerâmica que lavo 2 vezes por semana, sabe como?
Fiz uma emenda (bem rustica mesmo) de mangueiras até a saída de águas da máquina de lavar e comprei dois imensos baldes de 100 litros onde a água é recolhida, com sabão em uma e de enxague na outra.
Não uso nem um centímetro de água tratada, limpa, para lavar os quintais e mesmo os banheiros de casa.
Além de economizar dinheiro, ajudo a natureza e faço do trabalho uma acadêmia grátis, carregando baldes, esfregando chão e puxando água com rôdo.
Espero que um dia possamos todos ter uma conciência mais apurada do mal que causamos ao nosso planeta.
Beijão pra você
Oi LUCCAS!
ResponderExcluirE eu nunca tinha ouvido falar :( A gente sempre escuta mais fofoca de artista que coisas que valham a pena mesmo! A mídia prefere investir em escândalos, tragédias... :(
Beijo!
Oi VERA!
Eu sou uma eterna revoltada com a raça humana, rs!!! Não me conformo com tanta covardia que praticam contra os animais, com as safadezas que implicam na degradação de nosso planeta. Ler sobre o sistema que você usa na sua casa de captação de água da máquina de lavar roupa é genial. Estou batalhando a ampliação e reforma da minha e tão logo possa ter o espaço necessário, vou pedir ao meu marido que faça essa adaptação prá que eu consiga usar o mesmo sistema! Uma grande idéia!
Beijocaaaaaaa!
É pena que a maior parte da humanidade não esteja nem aí para o futuro do nosso planeta. Parece que se esquecem que dependemos do planeta para viver e não o contrário.
ResponderExcluirOlha Mônica, é a triste realidade dos nossos dias. Mas tenho esperança que a minha filha e outros da geração dela lutem para parar com esta triste situação. Espero realmente que as gerações vindouras se mentalizem que só existe uma Terra, e que esta Terra ainda é o que temos de mais precioso.
Beijo, Filipe
FILIPE!
ResponderExcluirA maior esperança é que um dia a raça humana acorde!!! E se toque que só temos esse chão!
Nada mais!
O resto é espaço infinito! Vácuo!
Nada!!!
Beijo e obrigada por ter aparecido!