terça-feira, novembro 03, 2009

Franciscanamente - Eloah Margoni

O que te mata é o que te move" (frase esotérica) Sinto-me privilegiada e infeliz ao mesmo tempo, por causa da grande sintonia que, desde criança, tenho com a natureza e com a diversidade da vida na Terra. A infelicidade causada por tal paixão advém de razões bem conhecidas e óbvias, alheias aos meus desejos, sonhos e entendimento racional. A alegria e o bem estar por outro lado, devo explicá-los, para que seja possível para aqueles que não possuem esses sentimentos por Gaia tão enraizados como o são em mim, compreenderem que tal sensibilidade traz não só muito sofrimento mas, afortunadamente, também manchas de oásis e de encantamento em meio à aridez adversa, cortante e estéril do universo humano. As tragédias do tosco Homo sapiens comovem-me também e relativamente, por outro lado; a omissão social não é hábito que cultivasse em nenhum momento da vida. Minha profissão inclusive não me permitiria isso. Preocupação especialmente com os infantes...Porém, esta espécie de bicho a qual pertenço não está no centro nem do universo nem de meu espírito. Ali esteve por algum período não tão longo (no centro do meu espírito quero dizer)... Já nem está, e no universo sempre foi faísca. Posso me distrair enormemente com os lagartos que ficam, nas manhãs de sol, parados nas pedras e correm da gente quando nossos passos se aproximam. Apenas ver um besourinho milimétrico de intensa e brilhante cor bordô, que nunca conhecera antes, bem ali parado no muro do meu jardim, é melhor do que um presente de Natal! A família de pássaros “quero-quero”, mãe vigilante, atentíssima e quatro filhotes agitados, zanzando de lá pra cá, qual frangos em miniatura no parque que atravesso diariamente, vem a calhar. Não preciso de espectadores humanos em muitos dos meus momentos. Bem- vindos sejam leitores iguais a mim, ou a caminho! Posso parar, e paro, para passar o dedo delicadamente sobre trinta joaninhas irmãs, de casca lustrosa, morando juntas sob os cogumelos "orelhas de pau" da árvore morta. As câmeras municipais de vigilância devem achar esquisito que eu fale tanto com a coruja que fica no mourão. Ou não...câmeras de segurança não têm de pensar nada. Nuvens cúmulos-nimbos em sua maleabilidade e fluidez podem distrair-me por horas, mais do que computador! Uma grande pedra acolhedora e aquecida pelo sol, sobre a qual nos deitamos num dia mais ameno é deliciosa... E os troncos das árvores! Desenhos que são vivos, caminhos, trilhas sinuosas e insinuantes, tons e mais tons, cores tiradas de outras cores. São tantas as contemplações, os sons naturais e os olores da terra capazes de afugentar qualquer solidão ou autopiedade em meu peito, que dá pra rir como os loucos, sozinha, e suspirar, e rir de novo e sentir-me acompanhada. Por outro lado, isso tudo não me parece, para o intelecto, coisa de grande juízo ou sensatez, de bom equilíbrio mental. Só posso explicá-lo aceitando que, com o tempo, me afastei de minha espécie... Se a alma do homem for lilás ou branca, a minha será cor de mel ou esverdeada. Enfim, diferente. Se for redonda, encompridei por enquanto. E cá entre nós, isso traz a qualquer um imenso, inenarrável alívio!

2 comentários:

  1. Meu blog é modesto Eloah, quase sem movimento, kkk, mas sempre estará a sua disposição e de quem mais quiser mostrar o coração! ;)

    Lindo demais!

    Também passo horas quando posso, só admirando as coisas da natureza.

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  2. Nossa, que texto lindo! me encantou demais sua forma de escrever, tao a cara da natureza, como se vc propria fosse um elemento tao profundamente enraizado nela... nao te conheco, Eloah, mas imagino que vc deva ser uma pessoa muito bacana! Um abraco de alguem que pensa muito parecidamente com voce. Lia

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